quinta-feira, 23 de abril de 2015

FHC defende liberação das drogas



Em seminário internacional sobre política de drogas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que, no Brasil, negros e pobres são presos, mesmo quando portam pequenas quantidades de droga, o que não acontece com brancos de classe média ou alta.
No Brasil, a probabilidade de ir preso aumenta muito se for pobre, negro e mulher, incluindo se estiver com pouca droga. A polícia diz que é tráfico. Há um preconceito muito grande. Se for uma pessoa com ‘aparenciazinha’ melhor, passa”, afirmou Fernando Henrique no evento organizado pelas Fundações Sociedades Abertas, do empresário e investidor húngaro-americano George Soros. “Estamos na mão da discricionariedade da polícia”, completou.
No seminário, no Rio, o ex-presidente criticou o governo federal por não participar de forma efetiva da discussão sobre nova política de drogas, com menos repressão e mais ações de redução de danos e atenção aos dependentes. Ele reconheceu que não há ambiente no Congresso para discutir temas como a descriminalização das drogas. “É preciso primeiro mudar a cultura e depois mudar a lei”, disse. Para Fernando Henrique, a resistência à discussão “não é conservadorismo, é atraso”.
“Descriminalização é um ato de civilidade. O usuário não pode ser posto na cadeia. Às vezes, pode ser aconselhado a ir a um dispensário médico, se não for o caso de uso por recreação. Outra coisa é o contrabandista. A descriminalização não legaliza automaticamente”, afirmou o ex-presidente.
No seminário, George Soros perguntou ao ex-presidente “por que o Brasil está ausente desta discussão global e atrás de outros países da América Latina?”. Fernando Henrique respondeu que, “no caso do Brasil, o governo atual aparentemente não tem sensibilidade em relação às drogas”. Ele disse ter ouvido da presidenta Dilma Rousseff que “é viável” o Brasil participar do debate sobre mudanças nas leis e caminhos para a descriminalização do uso de drogas.

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