segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Uma entrevista com uns dos grandes narradores do Rádio Edson Mauro



Edson Pereira de Melo nasceu em Maceió/AL e começou sua carreira aos 15 anos de idade, na Rádio Difusora de Alagoas, de lá pra cá foram muitas façanhas, o que hoje o torna um dos mais respeitados narradores do Brasil.
Vamos às perguntas.

Pergunta 1 -
Todo mundo tem um “estalo” que indica o caminho profissional a percorrer. Quando e como aconteceu isso?
Edson Mauro - Quando garoto, em Maceió, por volta dos 13 anos, descobrí que preferia "transmitir" os jogos de botão a jogar botão e "transmitir" as peladas de futebol dos amigos a jogar bola com os amigos. Para chegar à conclusão que o rádio era a minha praia, foi um pulo de mais dois anos, quando fiz o primeiro teste na Rádio Difusora de Alagoas e no mesmo dia comecei a estagiar. Três anos depois, estava na Rádio Gazeta de Alagoas, que era a melhor rádio de lá, e três anos mais tarde, aos 21 de idade, estava na Rádio Globo, que tinha a melhor equipe esportiva do Brasil, comandada pelo Waldyr Amaral.

Pesgunta 2- Muitos narradores, talvez todos, se espelham em alguém da profissão. Quem foi o espelho do Edson Mauro?
EM - Waldyr Amaral, a quem ouvia em Maceió quando ele transmitia os jogos pela Rádio Globo, que chegava lá com som claro e forte, como se fosse uma rádio local. Além da clareza com que transmitia os lances, explicando as jogadas, localizando a bola, dando a dimensão exata do perigode gol, etc., o Waldyr transpirava uma liderança e um comando que se percebia no ar, pois suas transmissões eram extremamente bem organizadas e bem finalizadas, com cada coisa em seu lugar. Além da sua genial criatividade e atualização. Aquilo me fascinou. No dia em que recebí o convite para trabalhar na Rádio Globo com o cara que era o meu ídolo, pode imaginar como fiquei.

Pesgunta 3 -De onde surgiu o slogan “Bom de Bola”?
EM - Quando já estava na Rádio Globo, pois o Waldyr Amaral gostava de rotular todo mundo com slogans para marcar bem as chamadas de cada um. O Celso Garcia era o Garoto do Placar. O José Carlos Araujo, o Garotinho. João Saldanha, o Comentarista que o Brasil Consagrou. Denis e Washington, os Trepidantes. Quando cheguei, me batizou de O Bom de Bola, sem saber que mal sei dar um passe com a bola nos pés. Foi legal, pois hoje em diversos locais muita gente me trata apenas como Bom de Bola. Já ganhei até chuteira de presente em homenagem ao slogan.

Pergunta 4 - Dos narradores atuais (rádio e televisão) quem você destacaria como o mais promissor? Por qual motivo?
EM -
Existe um narrador na Rádio Globo Minas, em Belo Horizonte, que reputo como uma das grandes promessas, tanto para rádio como para televisão: Guto Rabello, que tem voz de qualidade, dinâmica de transmissão e conteúdo jornalístico.

Pergunta 5 - E entre os colunistas e repórteres?
EM -
Na área de colunistas mais recentes, o mercado sente falta de um nome que possa significar uma grande novidade, pois, para sobressair, o peso da opinião e da abordagem inédita tem que ser maior que o da escrita elaborada. Acho que até pode surgir algum fato novo, claro!, mas vejo o cenário como sombrio, com todo mundo muito igual, falando a mesma coisa, como se houvesse uma coisa combinada. Entre os repórteres, no rádio destaco Jorge Eduardo, no Rio, e Maércio Ramos, em São Paulo. Na tv, vamos ouvir falar muito do Marcelo Courrege.

Pesgunta 6 - Muitos narradores formam “duplas eternas” com os repórteres de campo ou comentaristas tipo Galvão Bueno/Arnaldo César Coelho, Januário de Oliveira/Adson Coutinho, e Luciano do Valle/Eli Coimbra. Quem seria sua dupla inesquecível?
EM -
Minha dupla eterna é um quarteto, formado na Rádio Globo do Rio por Waldyr Amaral, Jorge Curi, João Saldanha e Mário Vianna. Waldyr e Curi dividiam as tranmissões, um em cada tempo, Saldanha comentava e Mário Vianna julgava a arbitragem(foi ele o "Pai" do Arnaldo Cezar Coelho).


 Pergunta 7 - Os profissionais do meio esportivo muitas vezes não divulgam o time do coração. No seu caso, vê algum problema em divulgar? E por qual motivo acha que os profissionais tomam essa atitude?
EM -
Para não melindrar o torcedor do outro time e manter um certo mistério, como também por uma questão de preservação física, pois já tive problemas(todos já tivemos!) em São Januário com um torcedor que achou que eu sou botafoguense. Para me livrar da situação, jurei ser vascaíno. Mas, hoje, isto já está mais tranquilo de administrar, pois ninguém nasceu em chocadeira e tem time desde criança e desde que não transforme seu trabalho em uma arquibancada. Em tempo: sou Flamengo.



Pergunta 8 - Alguns bordões famosos criados por você como “Bingo!” não saem da cabeça dos ouvintes da Rádio Globo. Como eles são criados e qual o seu preferido?
EM -
O Bingo! me deu muitas alegrias pelo reconhecimento(ainda hoje), mas parei de usar por me sentir desconfortável pelo sentido pejorativo que o termo ganhou, envolvido com falcatruas, ações da polícia, etc. Outros, como Foi Ele que Botou Lá Dentro, É o Pai da Criança, também gosto muito. E o mais novo da turma: Olhe o Goooollll! Eles acontecem ao natural, de acordo com o que acontece no dia a dia das ruas, da música, das novelas da tv, da política, do que a meninada está falando, etc. Para isto, estou sempre antenado, lendo, ouvindo e conversando com minhas filhas para saber dos modismos que estão rolando.

Pergunta 9 - Para terminar, cite um jogo narrado ao vivo por você e que lhe marcou.
EM -
Gostei muito de fazer o jogo da despedida do Pelé como a camisa dos Cosmos de Nova York. Aconteceu em New Jersey, nos Estados Unidos, contra o Santos, quando narrei o último gol na vida do Rei, no dia 01 de outubro de 1977. Além do jogo de grandes estrelas internacionais, ficou na memória a festa que o americanos fizeram e somente eles sabem preparar. Inesquecível.

Postado por Calazans Silva
 

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